sexta-feira, 25 de junho de 2010

A menina e a rosa


Ela tinha o seu mundo e era um mundo só dela.
Ela viveu sozinha durante séculos, viu a natureza e os homens e viu os homens destruírem a natureza. Ela viu também os homens destruindo outros homens e imaginou que nunca iria querer uma companhia parecida com essa, preferia ser sozinha. Contudo ela descobriu uma forma de vida que pode alimentar sua alma. Uma forma de vida muito diferente. Era uma rosa, mas não era uma rosa qualquer. Era uma rosa com todos os defeitos do mundo, mas suas qualidades apagavam os defeitos. Ela amava a rosa... Ela completava a rosa e a rosa a completava. E elas se amaram e se divertiram durante anos. Enfrentaram a hipocrisia dos homens que diziam que ela não podia amar uma rosa e que a rosa não podia amar uma menina. Enfrentaram olhares e gestos que deixavam o mundo sem cor. Enfrentaram o céu e o inferno e ficaram juntas. Ficaram juntas e deram risadas de tudo e de todos.
E agora? O que está acontecendo?
A rosa não é mais a mesma. Elas não dão mais risadas juntas. O mundo que era delas não consegue mais ver a sintonia da menina e da rosa. A menina chora e a rosa conta estrelas, sozinha. Ela quer contar estrelas também, mas a rosa não quer contar estrelas com ela. Ela não sente mais a rosa, não se sabe o motivo, mas a rosa não está mais ali. A rosa não canta. A rosa não dá risadas. A rosa não conversa. Ela só senta ao lado da menina como que por obrigação e dá bom dia e boa noite. E a menina está sozinha de novo, mas agora ela não quer mais ficar sozinha. Quando se está completo não se quer mais ficar incompleto. E é difícil, muito difícil. A menina andou por aí, procurou cravos e margaridas e até outras rosas, mas nenhuma flor no mundo era como aquela. Nenhuma flor conseguiu completar seu vazio. E a menina voltou pra casa e lá encontrou a rosa contando estrelas de novo, achou que estava tudo bem, chegou perto e mais uma vez não sentiu a rosa.
O que se há de fazer?
A menina sentou-se e esperou a rosa dizer, ficou sentada durante décadas e a rosa não disse, mas ela está lá e a rosa também. E elas vão ficar lá, a rosa contando estrelas, sozinha, e a menina esperando um convite para poder contar estrelas também...


Dedicado a alguém de muita importância (s2)

2 comentários:

  1. Perante o texto, não entendo esse egoísmo da rosa. Afinal as duas pelo visto se amavam e possuíam um excelente relacionamento. Se a rosa não quer mais prosseguir com isso, é um direito dela. Mas não dá a ele o direito de desprezar a menina que tanto a ama, e deixá-la sozinha, sem ao menos uma explicação.
    Excelente texto Sarah.
    Parabéns.

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  2. Texto lindo, Sarah! Me arrepiou, sabia? Às vezes, o que acontece é apenas uma falta de comunicação.. Talvez a menina também tenha mudado e a rosa também tenha se sentido sozinha.. Mas é apenas uma suposição. Afinal, a rosa não fala, não é mesmo?

    Beijos, querida!

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