quinta-feira, 28 de julho de 2011

Amor





-Sinto-me tão bem quando estou com você
-Não mais do que eu!
- ...
-Jura que não me deixa?
-Eu juro!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mudar



" Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas.

Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.

Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem
despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda !

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!
"


Clarice Lispector

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Uma só palavra: Prazer



E eu andava meio assim mesmo. Como se o mundo estivesse ali e eu precisasse dele. Não como cura para minha loucura, mas como água para minha sede. Sede de desejo, digo. Passei a tarde pensando nessa coisa de beber o mundo, mas não sabia como se fazia isso. Não sabia como se bebia o mundo. Então só fiquei lá, sentada, esperando-o ansiosamente. Ele até que veio rápido. Deu-me um beijo e disse que eu estava linda. Sabia que não estava, era apenas instinto. Instinto masculino que fareja a fêmea e quer dominá-la achando que ela está linda, mas não está. E eu, quase morta na minha sede, continuei estirada no sofá de couro preto, que compramos no verão passado. O couro me domina, sabe? Ele desperta algo em você, pelo menos, em mim funciona. Ele largou a mala no corredor e voltou. Se jogou em cima de mim e pôs a me beijar alucinadamente. Sabe quando o seu coração bate tão forte que dói dentro do peito? Batia assim, mas a dor era boa. Alias, todas as dores daquele momento foram boas. Ele disse estar com fome, disse isso sussurrando e gemendo em meus ouvidos, então eu disse: Devora-me! Não é algo obsceno, não foi. O que queria que eu tivesse dito? Eu estava ali com sede de mundo e ele vem se entregando assim? Seria pecado não mandar. O cheiro era bom e dava a ele mais fome e mais vontade de me devorar. O barulho também, gritos abafados, o barulho de corpos no couro. Já disse que o couro me domina? Num minuto ele já tinha me absorvido, éramos apenas uma mistura de cheiro, barulho e vontade. Sempre foi de me tirar o ar, mas ontem? Ontem ele não me tirou o ar, ele simplesmente arrancou-me com todas as forças. Forças de animal selvagem. Com os dentes, com as garras. Farejou-me, devorou-me, levou-me a um lugar onde eu nunca tinha ido. Um lugar inexplicável, um lugar que ninguém que não tenha sede de mundo e seja devorada vai conhecer. Era fogo e água. Preto e branco, frio e quente. Era o pecado. Era eu, ali, gemendo por ele, para ele, nele. Perfeito? O que você chama de perfeição? Eu diria que foi a água que você toma quando está no deserto, que você engole em segundos e sente um prazer indescritível. Eu diria que... é, eu não diria nada. Porque, como eu disse, é inexplicável.