segunda-feira, 4 de julho de 2011

Uma só palavra: Prazer



E eu andava meio assim mesmo. Como se o mundo estivesse ali e eu precisasse dele. Não como cura para minha loucura, mas como água para minha sede. Sede de desejo, digo. Passei a tarde pensando nessa coisa de beber o mundo, mas não sabia como se fazia isso. Não sabia como se bebia o mundo. Então só fiquei lá, sentada, esperando-o ansiosamente. Ele até que veio rápido. Deu-me um beijo e disse que eu estava linda. Sabia que não estava, era apenas instinto. Instinto masculino que fareja a fêmea e quer dominá-la achando que ela está linda, mas não está. E eu, quase morta na minha sede, continuei estirada no sofá de couro preto, que compramos no verão passado. O couro me domina, sabe? Ele desperta algo em você, pelo menos, em mim funciona. Ele largou a mala no corredor e voltou. Se jogou em cima de mim e pôs a me beijar alucinadamente. Sabe quando o seu coração bate tão forte que dói dentro do peito? Batia assim, mas a dor era boa. Alias, todas as dores daquele momento foram boas. Ele disse estar com fome, disse isso sussurrando e gemendo em meus ouvidos, então eu disse: Devora-me! Não é algo obsceno, não foi. O que queria que eu tivesse dito? Eu estava ali com sede de mundo e ele vem se entregando assim? Seria pecado não mandar. O cheiro era bom e dava a ele mais fome e mais vontade de me devorar. O barulho também, gritos abafados, o barulho de corpos no couro. Já disse que o couro me domina? Num minuto ele já tinha me absorvido, éramos apenas uma mistura de cheiro, barulho e vontade. Sempre foi de me tirar o ar, mas ontem? Ontem ele não me tirou o ar, ele simplesmente arrancou-me com todas as forças. Forças de animal selvagem. Com os dentes, com as garras. Farejou-me, devorou-me, levou-me a um lugar onde eu nunca tinha ido. Um lugar inexplicável, um lugar que ninguém que não tenha sede de mundo e seja devorada vai conhecer. Era fogo e água. Preto e branco, frio e quente. Era o pecado. Era eu, ali, gemendo por ele, para ele, nele. Perfeito? O que você chama de perfeição? Eu diria que foi a água que você toma quando está no deserto, que você engole em segundos e sente um prazer indescritível. Eu diria que... é, eu não diria nada. Porque, como eu disse, é inexplicável.

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